A FIBA fornece apenas orientações gerais para as regras do minibasquete, permitindo que cada país adapte o jogo conforme sua realidade. Essa flexibilidade considera fatores como diversidade cultural, contextos locais e diferentes níveis de desenvolvimento.
No entanto, apesar dessas justificações, há uma necessidade evidente de maior estrutura e clareza. Seria vantajoso que a FIBA liderasse a criação de um referencial internacional para o minibasquete, baseado em evidências científicas e boas práticas pedagógicas. Um modelo orientador global traria coerência à formação dos jovens aletas, respeitando as diferenças, mas garantindo princípios comuns. Isso facilitaria também a formação de treinadores, a progressão dos atletas e a qualidade do ensino. Um guia internacional ajudaria a equilibrar inclusão, desenvolvimento técnico e evolução do jogo. A ausência de um quadro comum gera desigualdades e confusão. É tempo de a FIBA promover uma base sólida e partilhada das regras para o minibasquete em todo o mundo.
A FIBA propõe orientações gerais para o minibasquete, visando adaptar o jogo às características físicas, motoras e cognitivas das crianças em fase de iniciação. Entre as recomendações, destaca-se o formato do jogo 5x5, mantido num contexto formativo, mas com adaptações como campo reduzido, tabela mais baixa (cerca de 2,60 m) e bola mais leve (tamanho 5), promovendo maior participação, confiança e aprendizagem técnica.
Estas diretrizes não são obrigatórias, mas sim flexíveis, permitindo adaptações por parte das federações e associações locais. Essa liberdade favorece a adequação pedagógica, mas também pode gerar confusão, desigualdades e falta de coerência no ensino do minibasquete a nível internacional.
5x5 no Minibasquete: coerência, inclusão e formação real
Espanha, Argentina, Itália e Grécia adotam o formato 5x5 no minibasquete por motivos pedagógicos e formativos, valorizando o jogo coletivo, a cooperação e a aprendizagem tática desde cedo. Na Espanha, a FEB unificou o 5x5 para garantir coerência pedagógica, inclusão e organização eficiente de competições, com foco no desenvolvimento lúdico e sem especialização precoce. A Argentina pratica 5x5 desde os anos 1970, promovendo formação integral, empatia e transição natural para categorias superiores. A Itália adapta o 5x5 para fins educativos, enfatizando relações sociais e cognitivas no jogo. A Grécia, inspirada no modelo sérvio, prioriza o desenvolvimento tático e criativo, seguindo as diretrizes da FIBA Europa. Todas as federações veem o 5x5 como essencial para um ensino coerente, inclusivo e alinhado com o basquetebol adulto, garantindo melhor preparação dos jovens atletas.
Por cá, depois de uma longa tradição a jogar 5x5 no minibasquete passou-se por uma fase de “experimentação” com o formato 4x4. No entanto, em tempo oportuno, regressámos ao 5x5, alinhando-nos assim com a maioria dos países que privilegiam este modelo. Essa transição reflete a busca por coerência pedagógica e competitiva, preparando as crianças de forma mais integrada para as etapas superiores do basquetebol.
Formar não é simplificar — é preparar para o jogo e para a vida.
Nas universidades, especialmente em Espanha, há investigadores a estudar o minibasquete com base científica e pedagógica. Idealmente, as propostas surgidas desses estudos deveriam ser avaliadas por treinadores, federações e associações antes de serem submetidas à FIBA, que decide se aplica, adapta ou rejeita consoante o contexto local. No entanto, enquanto a FIBA não toma decisões claras, reina a confusão — com professores, treinadores e curiosos a debater regras e formatos de forma descoordenada.
Uma das ideias peregrinas é que jogar 4x4 (com menos jogadores) facilita a tomada de decisão por haver mais espaço. Apesar disso ser verdade, o argumento levado ao extremo torna-se incoerente: se mais espaço é sempre melhor, então porque não jogar 3x3? A verdade é que o problema do espaço não se resolve apenas retirando jogadores, mas sim ensinando os princípios do “spacing” — mesmo no minibasquete, com crianças e equipas de baixo nível.
Como diz, e bem, Jota Cuspinera : “alguns treinadores alegam que não têm tempo para ensinar “spacing”. Mas é precisamente por o tempo ser curto que se devem focar no essencial. A produtividade no treino vem de identificar o que realmente importa — e o “spacing” é um dos fundamentos mais importantes do jogo coletivo. Sem ele, não há organização tática possível”.
Quem diz que o “spacing “não é importante, simplesmente não está a cumprir o papel de professor/treinador. Ensinar “spacing” desde cedo é investir no crescimento dos jovens e do coletivo da equipa.
Esse tipo de ensino é comparado à lógica da escola pública, onde se elimina o problema em vez de ensinar a resolvê-lo.
Se no minibasquete uma criança tem dificuldades com a bola, proíbe-se o roubo em vez de ensinar a proteger.
Se a equipa joga ao “molho”, retira-se jogadores em vez de ensinar “spacing”. Este facilitismo pedagógico não prepara ninguém para a realidade.
Conclusão:
A mensagem final é clara: ensinar dá trabalho, exige conhecimento e dedicação. Mas só assim se forma verdadeiramente os jovens — tanto no desporto como na vida.