Num tempo em que se adia a festa, importa lembrar porque nunca se adia a Liberdade — o testemunho de um jovem militar, jogador de basquetebol e futuro professor que viveu a madrugada que mudou Portugal.
Agora que o Governo decidiu adiar a “agenda festiva” do 25 de Abril devido à morte do Papa, é tempo de afirmar, com clareza e convicção: 25 de Abril, para sempre.
A pergunta tradicional — “Onde estavas no 25 de Abril?” — leva-me inevitavelmente a recuar no tempo e a recordar os dias em que prestava serviço militar no Quartel da Graça, nas Transmissões.
Após o primeiro golpe falhado (Caldas da Rainha), já todos sentíamos que algo maior se preparava. E assim foi: naquela madrugada bendita, chegou o dia por que esperávamos.
Eu, jovem recruta na tropa, não participei diretamente nos acontecimentos decisivos. Mas lembro-me bem da emoção de sair à rua com a missão de comprar jornais, num ambiente de festa e euforia no quartel e fora dele.
Não era para menos: tinha caído a ditadura que mantinha Portugal atrasado e sem liberdade. Para nós, jovens militares, foi também o alívio de saber que não seríamos enviados para uma guerra que já tinha destruído tantas vidas e famílias.
Hoje, custa acreditar no que era aquele Portugal a preto e branco — tal como a televisão da época. Sem liberdade de expressão, mergulhado numa guerra colonial, o povo vivia oprimido e triste. A minha juventude foi passada com a sombra da guerra sempre presente.
Tive a sorte de, apesar das dificuldades económicas, conseguir estudar — o que não era para todos — e assim adiar a ida para a tropa.
Além disso, como jogador profissional de basquetebol do Benfica, vivi experiências raras para a maioria dos portugueses: voei de avião (um luxo reservado aos mais ricos), saí de Portugal (algo que era quase proibido) e conheci Inglaterra.
Recordo ainda uma viagem a Badajoz: o que mais me fascinou? Os caramelos que colavam aos dentes… e a Coca-Cola, proibida em Portugal por ser considerada uma “droga americana”.
O 25 de Abril abriu-me ainda outras portas: tornei-me professor em Vila Franca de Xira, onde cheguei a dar aulas ainda fardado. Nunca esquecerei os alunos a saudar-me com entusiasmo quando entrava na sala: “Viva o Fininho do MFA!”
Em jeito de conclusão, posso dizer que o 25 de Abril nos deu tudo aquilo que não tínhamos: liberdade, dignidade, esperança. E abriu caminho aos nossos filhos e netos — para que possam viver, acima de tudo, em LIBERDADE.
Mário Silva
Professor Reformado da Escola Secundária Alves Redol.